quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Sabem lá

Hoje enquanto esperava no café pelas minhas colegas de trabalho fui lendo o livro de poemas de uma colega minha e havia um poema que parecia feito para mim naquele dia. Por isso aqui está o poema que revela o meu estado de espirito.

"Sabem lá"

Sabem lá o que sinto cá dentro
Compreendem lá um pouco desta dor intrometida
Este multiplicado tormento
Que é viver todos os dias a mesma vida?

Entendem lá metade ou um terço desta agonia
Falam com desconhecimento de causa e nem sabem
O que é ter todos os dias o mesmo dia
Todas as noites as mesmas dores que no peito não cabem

Calculam lá os que falam de mim
O que é beber café todas as manhãs com o mesmo sabor
Queimar mirra e cheirar sempre alecrim
Beijar e sentir sempre dor

Não sabem nada e olhai que nada é pouco
Sabem lá o que é buscar risos e lamber sal
Ser-se poeta e tido por louco
Ser-se gente e visto animal

Nem imaginam sequer o que é mudar de boca
Mudar de olhos para enfrentar outro olhar
Ter de fugir do silencio e da voz rouca
Porque ficar calado é pior que gritar

Sabem lá os que me apontam do alto da sua razão
Quão enganados andam com o que pensam
O quanto sofro não saber explicar a minha solidão
O quanto luto para que os que tudo sabem não vençam!

Poema da autoria de Maria Corgas

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